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Maio de 2020

O estudante de design passa por algumas experiências que talvez sejam semelhantes em outras profissões, a dificuldade de entender o que é Design é a primeira delas e a mais impactante para sua recém-chegada à universidade. Muitos cursos de Design são vistos inicialmente ou idealizados como atividades mais voltadas para práticas empíricas, como no caso do Design de Interiores que é uma das áreas complexas do Design e muitas vezes é confundido, segundo a visão de vários ingressantes nas faculdades, como um curso para decoradores. Já nos cursos de Design de produtos é comum que os estudantes vejam o seu futuro como um bem-sucedido designer de automóveis e na prática, nem sempre esta realidade acontece. Pode ser que durante o curso o estudante de Design se identifique com uma outra área projetual e enverede por esta área e chegue a ser um profissional muito bem-sucedido e nem se quer tenha desenhado o tão lá atrás sonhado automóvel. Para o estudante de Design de Moda a realização profissional está no desejo de ser autor de uma coleção e demonstrá-la numa passarela num grande evento de moda e que para chegar até lá basta ter um bom traço e uma criatividade exuberante. Já o designer gráfico sonha com a criação de uma marca reconhecida e adorada em todo o mundo e que lhe dará a tão sonhada fama e independência financeira e que este estrelato será reconhecido por profissionais da área no mundo inteiro. Bom, estas são algumas das visões que pude ter o privilégio de terem sido compartilhadas comigo em sala de aula em minhas andanças por estes cursos.

Confesso que eu adorava viajar com eles em alguns minutos preciosos de conversas depois das aulas. Me fazia voltar no tempo. Voltava para os anos 90, quando eu era um estudante de Desenho Industrial com habilitação para Projeto de Produtos e imaginava que um dia estaria numa grande indústria desenhando algum produto adorado por muitas pessoas, um produto campeão de vendas e que todos gostassem muito de ter em suas casas. Me fez lembrar também de quando estava em casa fazendo os trabalhos da faculdade em meio a uma tremenda bagunça de papeis, papelão, tesoura, estilete e outras coisas e meu pai passava pela sala e me perguntava – “Negão tá estudando o quê?”… aquela pergunta me deixava sempre sem respostas e à medida em que a faculdade avançava eu temia o que viria depois. Um mercado cheio de incertezas, porque eu pensava comigo, se eu não sei exatamente o que vou fazer, imagine o empresário que não estudou Design? E o que escreve procura-se “desing?” Ah eu ficava louco e cada vez mais inseguro. Pois bem, esta insegurança monta um panorama que eu vivi nos anos 90 e que provavelmente meus alunos devem viver em dias atuais, mesmo com todo o acesso à informação que temos hoje em dia e um mercado muito mais evoluído tecnologicamente e sob o ponto de vista do que é o Design e o que ele representa.

Sabemos bem que uma das maiores dificuldades dos profissionais de Design é sua entrada no mercado. Seja este profissional recém-formado ou com uma pequena experiência de mercado em outra área que não seja o Design. Saber se posicionar e criar sua estratégia de entrada no mercado faz uma grande diferença e inclusive, diminui as possibilidades de erros e isto está diretamente ligado ao capital inicial para abertura de uma empresa de design para aqueles que desejam empreender sua carreira como proprietário fundador de um estúdio de design por exemplo.

Outro grande dilema de quem está prestes a entrar no mercado, seja como profissional autônomo, freelancer, ou como dono de empresa de design, é saber cobrar pelos serviços de design que irá oferecer. Algumas associações de design oferecem tabelas de preços, porém num país com dimensões continentais como é o Brasil, estas tabelas podem ser realidade de algumas regiões do país e de outras podem ser impraticáveis. A ABD Associação dos Designers de Interiores recentemente lançou um aplicativo que calcula o valor dos serviços para os profissionais do design de interiores. Uma excelente iniciativa para os profissionais do Design de Interiores e certamente contribuirá para aqueles que ainda não dominam o controle de seus custos operacionais e de produção. Porém o aplicativo é voltado para o designer de interiores, não aplicável por exemplo para o designer de moda, ou o designer de produtos, por particularidades que cada área do design exige para a precificação dos produtos e serviços que oferecem.

É preciso que o profissional que deseja entrar no mercado do Design saiba primeiramente se posicionar. Este posicionamento pode por exemplo partir do que foi desenvolvido no DNA do estudante ainda na sua formação. É a partir daí que o profissional começa a conhecer suas habilidades e no que mais tem competência em sua formação. Porém este posicionamento pode demorar uma vida profissional inteira num mercado volátil em constante evolução, onde hora se tem um volume satisfatório de serviços e em outro momento pode vir uma sazonalidade natural do ambiente dos “designs”. Para a quebra destes momentos de sazonalidade o designer tem que estar atento às oportunidades de mercado que surgem e logicamente se preparar para galgar estas oportunidades com a competência que o Design exige. Lembrando que quando se fala em Design, logo vem à mente um serviço de muita qualidade e um resultado diferenciado.

Mas um bom posicionamento tem um ponto de partida e este ponto de partida exige do profissional do Design uma estratégia que geralmente não é dada em disciplinas de Empreendedorismo, ou Gestão Empreendedora ofertada nos cursos de Graduação e Graduação Tecnológica. Nestas disciplinas o foco é o desenvolvimento do caráter empreendedor e a profissão DESIGN exige um conteúdo mais focado com a realidade que o profissional com a formação em design encontrará no mercado e com as particularidades muito excepcionais da profissão em seu modo de criar, atender seus clientes e encontrar soluções, bem diferentes de áreas criativas como Arquitetura, como as Engenharias, como a Publicidade e o Marketing que seriam áreas com maiores afinidades. O ideal é que estas disciplinas fossem dadas por professores com formação em design, ou de outras áreas, porém com vivência nestas nuances nada comuns.

Outro ponto muito importante para a entrada no mercado é a definição de como deverá atuar em sua nova jornada. Se será dono do seu negócio, ou se será colaborador de uma empresa de design? Esta definição terá que ser muito rápida, visto que o mercado não é estático e o profissional do Design terá que trabalhar porque um dia suas responsabilidades baterão à sua porta.

Se optar por ser proprietário de uma empresa de design seja ela um estúdio, escritório, fábrica de ideias, instituto de educação, editora ou outra ideia qualquer de empresa, é bom ir pensando no tipo de marca que irá criar. Se será uma marca com seu nome ou se será uma marca com um nome de fantasia. O ideal é que esta marca seja representativa do ambiente em que a empresa irá atuar e suas bases filosóficas têm que ser muito bem definidas para a formação do caráter da empresa e sua empatia com seus clientes.

Sendo empresa, outra definição muito importante é com relação à sua estrutura física, onde você irá atuar. Atualmente com a pandemia do Corona Vírus, talvez muitos profissionais percam seus empregos e migrem para a abertura de seu próprio negócio com design. Deixa eu te falar uma coisa: “sua estrutura física pode jogar contra você – cuidado”. Isso mesmo, ela pode ser um peso no seu orçamento. Existe atualmente no meio da pandemia uma forte tendência para o Home-office, mas para isso sua estrutura tecnológica tem que ser afiada e poderosa. O ideal é que você defina rapidamente quem será seu cliente e onde pretende atende-lo, se ele irá ou não até sua empresa e se preparar para estas rotinas. Tudo é fruto de planejamento estratégico de design.

Caso opte por ser colaborador de uma empresa de Design, pode preparar um bom currículo criativo e um portfólio com foco na atuação pretendida. Isso atrairá a atenção do profissional recrutador que provavelmente será outro designer. Então atenção, seja designer, mas sem exageros ou narcisismos. Neste momento talvez você ainda não seja aquela estrela que sonhou lá atrás na faculdade. E se for uma estrela reconhecida em seu meio, prepare uma boa carta de intenção para o cargo pretendido, principalmente se este cargo for de liderança.

Estas são apenas algumas das atenções na hora de pensar em entrar no mercado Design, principalmente se você pretende viver de Design e se realizar nesta profissão para criativos de alto desempenho.

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